#17. Desafios do desenvolvimento setorial regional (Báltico) para o circo e as artes em espaço público

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#17. Desafios do desenvolvimento setorial regional (Báltico) para o circo e as artes em espaço público

Data:

26

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06

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2025

Autor:

Gildas Aleksa

Palavras-chave:

infraestrutura, colaboração, resiliência
#17. Desafios do desenvolvimento setorial regional (Báltico) para o circo e as artes em espaço público

Para compreender os desafios atuais que o circo e as artes em espaço público enfrentam na região do Báltico, é necessário recuar um pouco e considerar o contexto histórico. Enquanto na maioria dos países se conta uma história algo romântica de artistas que começaram por criar espetáculos de circo em palco, encontrando depois apoios que permitiram o desenvolvimento de estruturas e festivais associados, na região báltica - e em particular na Lituânia - o percurso foi bastante inverso. A presença de festivais internacionais, com programas cuidadosamente curados, apresentou-se desde cedo ao público báltico, o que exerceu uma pressão significativa sobre os artistas locais, obrigando-os a adaptar-se rapidamente aos padrões internacionais.


Concentrando-nos na Lituânia, a ausência de espaços dedicados ao circo ou à dança levou alguns artistas a procurar apresentar-se em contextos ao ar livre. Ao longo dos 35 anos de independência, não foi criada qualquer nova instituição estatal dedicada às artes performativas. Existem mais de 20 teatros públicos que trabalham especificamente com teatro verbal, mas não há uma entidade pública responsável por acompanhar os setores da dança ou do circo e apoiar o seu desenvolvimento.

Ainda assim, algumas organizações não-governamentais assumiram essa responsabilidade: o Lithuanian Dance Information Centre no domínio da dança, e o Teatronas no contexto do circo contemporâneo.

A já referida ausência de espaços profissionais dedicados abriu caminho para a criação de festivais que programam os seus espetáculos em espaços não convencionais - uma porta de entrada para os artistas bálticos no universo das artes em espaço público. Criar para o exterior na região do Báltico apresenta um desafio central: o clima. Ainda assim, apesar de o número de criações locais ser reduzido em comparação com outros países da Europa Ocidental, a Lituânia conta com dois festivais internacionais especificamente dedicados à criação para o espaço público (Šermukšnis e SPOT) e um festival que aposta numa programação em espaços não convencionais (ConTempo).

Existe uma lógica que sustenta a colaboração entre os países bálticos - ou da forma como se assumem, no contexto europeu, como uma unidade criativa. A Letónia possui aquilo que falta à Lituânia: o Riga Cirks, o edifício de circo mais antigo da Europa ainda em funcionamento contínuo como espaço dedicado ao circo atual. A Estónia, por sua vez, tem uma longa tradição de circos juvenis, muitos deles com elevado nível artístico, sendo frequente encontrar artistas da Estónia nas escolas de circo europeias ou integrados no circuito profissional.

As forças de cada país complementam as fragilidades dos outros. O edifício da Letónia é o sonho da Lituânia; a escola de circo juvenil da Letónia ambiciona alcançar o nível da Estónia; a Estónia não tem festivais dedicados ao circo, enquanto a Letónia conta com um e a Lituânia com dois. O pêndulo das atividades continua a oscilar: a Letónia não tem, atualmente, artistas profissionais de circo a residir no país, mas dispõe da capacidade para programar artistas estrangeiros; a Estónia não tem produtores especializados em circo, o que cria uma pressão acrescida sobre os artistas que tentam assumir ambas as funções; a Lituânia não dispõe de espaços para formação ou criação artística, mas consegue criar oportunidades para que os espetáculos locais circulem internacionalmente.

Apesar dos desafios - como a falta de espaços dedicados, a ausência de um programa nacional de residências e o número reduzido de artistas profissionais -, pode afirmar-se que a cena de circo contemporâneo nos países bálticos está, neste momento, em plena vitalidade.

Durante a Temporada Cruzada França-Lituânia, três novas estreias foram apresentadas no festival Circa, em Auch (França), após residências artísticas em estruturas francesas; a mostra báltica Epicirq, na Estónia, foi contemplada com um apoio do programa Europa Criativa, o que permitiu garantir uma representação internacional mais sustentável para os projetos selecionados; dois espetáculos de circo receberam quatro nomeações nos Prémios Nacionais de Teatro da Lituânia - The Golden Stage Cross; a companhia lituano-letã Art for Rainy Days obteve quatro nomeações e duas distinções nos Prémios de Dança da Letónia e começa a consolidar uma digressão internacional bem-sucedida; após a apresentação de um espetáculo no Jacksons Lane, o Teatronas está a colaborar com várias salas no Reino Unido com vista à realização de uma temporada dedicada ao circo e à dança dos países bálticos (em espaços interiores e exteriores); estão ainda em curso preparativos para uma Temporada Cruzada Alemanha-Lituânia, que promete abrir novas oportunidades para o setor.

Será que uma maior visibilidade internacional contribuirá para a profisisonalização de mais artistas nos países bálticos, ou resolverá a falta de espaços e de oportunidades de trabalho para os artistas locais? Só o tempo o dirá. O que traz algum alento é o facto de os problemas estarem claramente identificados e discutidos. No entanto, se seguirmos o exemplo de histórias semelhantes noutros países, é evidente que, sem um apoio sustentável por parte do governo ou das autarquias, estas questões permanecerão apenas no plano teórico. O que se confirma, repetidamente, é que estamos a falar de formas artísticas profundamente internacionais. E, considerando que praticamente todos os principais agentes do setor do circo e das artes em espaço público integram redes internacionais - como a Circostrada ou a Baltic Nordic Circus Network -, é visível uma atitude saudável e aberta que promove a colaboração além-fronteiras.

Tudo aquilo que falta num país, o país parceiro pode ter. E pode até ser do seu interesse, prioridade ou estratégia de financiamento apoiar o vizinho precisamente nessa carência.

Fotografia: © Donatas Ališauskas.

Gildas Aleksa

Gildas Aleksa é o diretor artístico da Teatronas - uma das principais organizações da Lituânia que desenvolve estrategicamente o domínio do circo contemporâneo no país e na região do Báltico. É também curador de programação do festival internacional de circo contemporâneo Cirkuliacija. Formado em encenação, dirige espetáculos de teatro e circo para estruturas independentes e governamentais, além de prestar consultoria e acompanhar diversos artistas nos domínios da dramaturgia, encenação e autoprodução.


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