Data:
.
.
Autor:
Palavras-chave:

Antes de abordar a evolução do circo em Taiwan, surge frequentemente uma questão fundamental: o que é, afinal, o circo?
Durante os nossos anos de formação, o termo “circo” (馬戲*) era raramente utilizado. O setor referia-se habitualmente a esta área como “técnicas especiais” (特技). Embora Taiwan possua escolas profissionais de circo, a formação era rigidamente compartimentada: até ao ensino secundário, o foco centrava-se no domínio físico, ficando o desenvolvimento intelectual e criativo adiado. O trabalho criativo era frequentemente limitado por paradigmas estéticos já estabelecidos.
Com o tempo, compreendemos por que razão as instituições preferiam o termo “acrobacia” (民俗技藝*): a designação tem origem na cultura popular e servia sobretudo como uma arte de entretenimento público. Só após o início dos intercâmbios internacionais é que o termo “circo” passou a integrar o nosso vocabulário, tornando-se a linguagem essencial e partilhada com os nossos pares em todo o mundo.
Nota:
A tradução literal do termo mandarim para “circo” (馬戲) é “espetáculo de cavalos”.
Embora “artes populares” (民俗技藝) seja a designação institucional em mandarim, a tradução oficial para inglês utilizada pela academia é “acrobatics”.
Em 2016, organizamos a primeira edição do “Taiwan Circus Platform” em Weiwuying, um momento decisivo que impulsionou a criação da Hsingho Co., Ltd. e da HoooH. A nossa missão não era apenas dedicar-nos à criação artística, mas afirmar-nos como uma entidade de produção e curadoria.
Reconhecendo que os artistas se desenvolviam de forma independente, procuramos criar uma plataforma coletiva voltada para a internacionalização. Esta iniciativa conseguiu reunir e canalizar a energia dispersa do circo em Taiwan. A partir daí, o número de profissionais a atuar nas ruas e nos teatros começou a multiplicar-se. Surgiram novos coletivos de criação, lembrando de forma contundente ao setor das artes performativas que o circo é um terreno fértil para a criação artística, e não apenas uma demonstração técnica.
Em simultâneo, o público e as entidades governamentais associaram fortemente o circo à performance de rua. O entusiasmo em torno das artes de rua - com artistas de grande notoriedade a atrair multidões e a aumentar a afluência aos eventos - criou oportunidades para programarmos alguns festivais de artes de rua e outras iniciativas em espaço público.
Os intercâmbios internacionais contínuos alargaram de forma significativa a nossa perspetiva. Aprendemos que a prática técnica não precisava de começar na infância e podia, muitas vezes, integrar-se na vida quotidiana. Este entendimento contrastava fortemente com a demonstração técnica que conhecíamos, aproximando-se antes de um processo de autodescoberta e de um esforço consciente para romper com fronteiras preestabelecidas. Os criadores deixaram de estar apenas absorvidos pela técnica, passando a confrontar-se com uma questão mais profunda e persistente: Quem sou eu?
Após essa tomada de consciência, continuamos a atuar como equipa de produção e curadoria, colaborando com organismos públicos em festivais e produções interdisciplinares. Tendo o circo como foco central, expandimos a sua atuação a diferentes setores, de modo a revelar o potencial ainda por explorar desta área artística.
A partir de 2019, o sistema de acreditação de artistas de rua em Taiwan passou a basear-se num modelo de inscrição. Embora esta mudança tenha aumentado a participação, a pressão para maximizar as contribuições do público levou à homogeneização dos conteúdos, resultando numa preocupante falta de diversidade artística.
Em resposta, instituições como a Kaohsiung Weiwuying Circus Platform começaram a introduzir programas avançados de formação profissional destinados a alargar os horizontes criativos. Novas vozes começaram a surgir, à medida que os diplomados se libertavam da inércia do treino técnico intensivo e encontravam as suas próprias perspetivas. Os criadores começaram a cruzar ideias e linguagens. De forma decisiva, um número crescente de artistas taiwaneses estudou e trabalhou no estrangeiro, trazendo depois as suas experiências enriquecedoras de volta ao país e impulsionando uma mudança profunda.
Nos últimos anos, mudanças nas políticas culturais levaram à interrupção de certas atividades de circo e de artes em espaço público, os orçamentos culturais foram reduzidos e a Circus Platform passou a realizar-se de forma bienal. Navegar neste panorama político em constante transformação, mantendo a estabilidade, continua a ser um desafio essencial para Taiwan.
Reconhecemos que a insuficiência de infraestruturas de formação e a escassez de oportunidades de intercâmbio são problemas estruturais. Por isso, em 2025, asseguramos um espaço físico para criar o "合室 HHHub". Mais do que um centro de treino, o HHHub acolhe encontros regulares de partilha e intercâmbio, convidando criadores de diferentes disciplinas a trocar ideias e a descobrir novas inspirações. A nossa procura contínua caracteriza-se por um questionamento permanente, um pensamento independente e uma prática fora de estruturas rígidas. Após anos de funcionamento nómada, procuramos agora consolidar estas forças numa base mais sólida e sustentável.
Historicamente, a perceção do público taiwanês sobre o circo era limitada. Hoje, Taiwan pode afirmar que alcançou progressos significativos: aumentou o número de criações artísticas que concorrem a apoios públicos e multiplicaram-se os grandes festivais que combinam recursos públicos e privados. O caminho em frente é inegável, Taiwan está ativamente empenhado em definir a sua própria identidade no panorama global.
A Hsingho Co., Ltd. (星合有限公司) e a HoooH (合作社) incorporam a crença de que «mesmo a luz mais ténue das estrelas, quando se une, brilha intensamente». Enquanto equipa profissional de produção e curadoria, ligam Taiwan à comunidade artística global, promovendo o circo contemporâneo e as artes performativas através de colaborações inovadoras e interdisciplinares.
Partilhar
Ler mais